sexta-feira, 30 de julho de 2010

Operadores do Direito, mudemos!

     Acabei de assistir à entrevista de Martinho Mendes Machado, no programa de Padre Albeni, e fui intensamente tocada pelas suas palavras. Ele é um cidadão que o Estado da Paraíba é carente da sua espécie, pois está em extinção ou sempre foi rara. 

     Dr. Martinho seguramente disse que "o operador de direito precisa ser escravo da leitura e do trabalho, que precisa conhecer mais a Sociologia, a Filosofia, e um pouco de Teologia, e que a faculdade não ensina isto". De fato, tudo é verdade, porque até podem existir, na grade curricular, as disciplinas de Sociologia e Filosofia, mas o aluno não pode ater-se somente aos ensimanetos do professor, pois o conhecimento delas requer raciocínio, leitura, pesquisa. Infelizmente muitos jovens estudantes da área jurídica só querem estudar leis, jurisprudência, tratados, mas não sabem nem o porquê e de onde surgiram, não procuram encontrar em qual contexto social foram propostos. 

     Talvez esta cultura atual seja efeito da grande demanda dos concursos públicos e dos sonhos de alcançá-los, para lograr um trabalho, aliás, um salário garantido. Milhares de pessoas passam horas infindas estudando, mas só o que está nos editais dos concursos. Não querem enxergar que a vida na carreira jurídica exige muito mais conhecimento. O Português está sendo esquecido e ele é o nosso idioma, modo pelo qual nos expressamos e, para passar aquilo que desejamos, é necessário palavras concatenadas, concordando entre si.

    Nos tempos de antanho, a cultura era mais dizimada, a leitura era um hábito, a música e o cinema também. Tanto é que os juristas de mais de meia idade têm uma biblioteca pessoal com clássicos da literatura, da antiguidade clássica, dos sociólogos dos séculos dezoito e dezenove. Hodiernamente, as xerox ( um mal desenfreado, mas, às vezes, inevitável, confesso) impedem os jovens de ir a uma livraria ou à biblioteca comprar e fazer empréstimo de livros. Só xerografam as partes que caem na prova. Por essas e outras o exame da OAB reprova tantos candidatos, isto é, os próprios concorrentes que se reprovam.

    A justiça, o fim do direito, não é o que diz a lei somente, mas o que a realidade do caso concreto proclama e, para senti-la, o juiz, promotor, advogado precisa ir às ruas, sair dos seus gabinetes, deixar de lado o formalismo espartano. O mundo de muitos operadores é diversamente proporcional ao das partes e, talvez por causa disso, a injustiça é perpetrada. 

     "Se fazer fosse tão fácil como se deve saber o que fazer, as capelas seriam igrejas e as cabanas seriam palácios. O bom predicador é aquele que segue suas próprias regras." (O Mercador de Veneza)


Raissa P. Palitot Remígio

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Paraíso na Outra Esquina

     Indubitavelmente, um dos melhores livros já lidos por mim. É uma obra dupla em uma única, pois conta a vida turbulenta de Flora Tristán e Paul Gauguin em capítulos alternados. O seu autor, Mario Vargas Llosa, soube, com muito conhecimento e aguçada habilidade, contar quase que, cabal e holisticamente, a história de duas grandes personalidades que fizeram seus nomes no mundo dos movimentos sociais e da arte e, embora europeues, desbravaram além terras continentinas defendendo seus objetivos.

     A leitura é empolgante, instigadora, pois nos faz raciocinar sobre a realidade hodierna, ao conhecermos mais a do século dezenove, época em que se passam os fatos. O incrível é perceber que as vicissitudes que ainda assolam e impedem o desenvolvimento de muitos países neste século, já existiam naquele, a saber, a exploração sexual de crianças e jovens mulheres em troca de migalhas. Fator contra o qual a aguerrida, Flora Tristán, tanto lutou para combatê-lo.

     Paul Gaguin foi um jovem que passara épocas no Peru, terra de seu tio Dom Pío Tristán, um dos homens mais poderosos de lá. Foi comandante da marinha, muito novo já era corretor de uma das bolsas de valores da França, a qual proporcionou momentos burgueses a ele e a sua esposa, Mette Gad, nobre dinamarquesa. Contudo, sua vocação para a pintura foi separando-o, aos poucos, do futuro promissor por que a família de Matte tanto esperava. Tornou-se pintor e foi morar no Taiti, em busca da "Casa dos Prazeres", onde padeceu. Mas, em muitos lugares, deixou suas obras, jamais esquecidas pelos admiradores e estudiosos da arte.

     Flora Tristán, sonhando com o "Palácio dos Operários", lutou incessantemente até seus quarenta e um anos contra a escravidão, a exploração sobre a classe operária, a submissão da mulher ao homem, e queria, a todo suor, implantar a justiça universal em um mundo de exploradores e sem ricos, no qual, entres outras excentricidades, as mulheres teriam os mesmos direitos que os homens perante a lei, no seio da família e até no trabalho.

   Confesso que a emoção arrancou de mim algumas lágrimas sinceras no final do livro. Estava acompanhando a leitura com tamanha atenção que me via dentro, por algumas vezes. Vivi o século dezenove, apesar de ter nascido no vinte, isto é, possibilidade que só a leitura nos dá o privilégio de senti-la.



    

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Entre mim e você

Encontrei, mas sem buscar aquele para amar
Foi você que apareceu naquele magnífico luarar
Tão belo que entre mim e você nada havia
A menos que, dois corações.
O futuro era incerto e pareceia muito irrequieto
Tua aparência era esguia e passava e falava, e ficou.
Não para sempre porque ela mudou.
Alegrias e tristezas estão imbricadas e dançando num compasso,
Concatenadas.
Aquela tem mais presença no palco que é a vida
Por momentos sublimes.

Entre mim e você há um quê inexplicável de atração
Muita semelhança, lembrança que ficou e guardou
E por algumas chorou.
Afeto existe a todo momento,
Exitirá o amanhã e eu, aqui, com você, esperando
Para gozar todos os sabores, afora os dissabores.
Quero saber de onde vem a inspiração
Se ela é ingênita,
Se ela mora na imaginação
Ou se ela é coisa mesmo da criação.

Só tenho a certeza que ela mora no coração
Logo, permanece em todos: eu, tu, ele.
Sabemos usá-la? Não, não
Exoploremo-la!

Mais destreza, muita maestria, menos regalia
Pode ser pueril e o vale é que seja com a alma
Proscreva os males, exale a benquerença
Chega de desavença.

Perceba o bem, sem olhar aquém,
Mas ame passando da sua razão
Superando suas mágos, vá mais além.

Sendo talvez

Não sei o que se passa, mas quero saber
A todo instante o que devo ser.
Sou ou não sou, sei ou não sei
Finjo, talvez? Quiçá...

Eis-me aqui, quase toda para Ti
Embora, as vezes, foges de mim, assim
Tão perto, quase ali se vai e vai alhures
Voltando morosa e amorosa(mente)? Algures...

Dizem que sou eclética, já outros que sou moleca
Sou tudo, serei nada abandonada, calada.
Estribilhos amiudemente se espraiam pelo ar, será?

Tergiversando devaneios
Titubeando tolices, contrapondo-se.
Na vã tentativa de obumbrar verdades ou imaginações.


Raissa P. Palitot Remígio