quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Paraíso na Outra Esquina

     Indubitavelmente, um dos melhores livros já lidos por mim. É uma obra dupla em uma única, pois conta a vida turbulenta de Flora Tristán e Paul Gauguin em capítulos alternados. O seu autor, Mario Vargas Llosa, soube, com muito conhecimento e aguçada habilidade, contar quase que, cabal e holisticamente, a história de duas grandes personalidades que fizeram seus nomes no mundo dos movimentos sociais e da arte e, embora europeues, desbravaram além terras continentinas defendendo seus objetivos.

     A leitura é empolgante, instigadora, pois nos faz raciocinar sobre a realidade hodierna, ao conhecermos mais a do século dezenove, época em que se passam os fatos. O incrível é perceber que as vicissitudes que ainda assolam e impedem o desenvolvimento de muitos países neste século, já existiam naquele, a saber, a exploração sexual de crianças e jovens mulheres em troca de migalhas. Fator contra o qual a aguerrida, Flora Tristán, tanto lutou para combatê-lo.

     Paul Gaguin foi um jovem que passara épocas no Peru, terra de seu tio Dom Pío Tristán, um dos homens mais poderosos de lá. Foi comandante da marinha, muito novo já era corretor de uma das bolsas de valores da França, a qual proporcionou momentos burgueses a ele e a sua esposa, Mette Gad, nobre dinamarquesa. Contudo, sua vocação para a pintura foi separando-o, aos poucos, do futuro promissor por que a família de Matte tanto esperava. Tornou-se pintor e foi morar no Taiti, em busca da "Casa dos Prazeres", onde padeceu. Mas, em muitos lugares, deixou suas obras, jamais esquecidas pelos admiradores e estudiosos da arte.

     Flora Tristán, sonhando com o "Palácio dos Operários", lutou incessantemente até seus quarenta e um anos contra a escravidão, a exploração sobre a classe operária, a submissão da mulher ao homem, e queria, a todo suor, implantar a justiça universal em um mundo de exploradores e sem ricos, no qual, entres outras excentricidades, as mulheres teriam os mesmos direitos que os homens perante a lei, no seio da família e até no trabalho.

   Confesso que a emoção arrancou de mim algumas lágrimas sinceras no final do livro. Estava acompanhando a leitura com tamanha atenção que me via dentro, por algumas vezes. Vivi o século dezenove, apesar de ter nascido no vinte, isto é, possibilidade que só a leitura nos dá o privilégio de senti-la.