terça-feira, 15 de janeiro de 2019

O Sorriso e O Gingado

Visão panorâmica para averiguar quem seria passível de investidas
Pessoas dançantes, livres, mas nenhuma era tão espontânea quanto tu
Nenhuma era tão solta, leve e sorridente quanto tu
Que direcionou o sorriso mais encantador pra mim naquela noite.

Passado um tempo a perder de vista, fiquei do teu ladinho sem nem querer
E tu olhou pra mim e mostrou tua cerveja, convidando pra gente brindar
E a gente brindou... sorrindo, um do lado do outro
Foi lindo. Foi sutil. Foi sincero e nada intrusivo.

E de lá, a gente partiu pra outro destino.
Com luz amena, no chão, janela aberta, e Chico César tocando "Da Taça/Onde Estará o Meu Amor",
Tu me recebeu com jeito e muito carinho.
Foi tão massa que a gente adormeceu e acordou com a luz do sol, entrando pela janela e ouvindo o canto dos passarinhos.

De lá pra cá, tu, passarinho, quer voar. Voa e leva teu encanto a quem merecer receber.
Eu... também vou voar, levando em minha memória teu sorriso, aquele, que mais me encantou naquela noite em que a gente se brindou pela primeira vez.

Raissa P. Palitot Remígio
15/01/2019

sábado, 13 de outubro de 2018

Cinco filhos e uma prisão para cada

E, na sala de audiência, em meio a várias audiências de Execução Penal, inicia a dele.
Pena de 4 anos. Iria para o regime aberto. Ficaria na Cadeia Pública do final da tarde da sexta-feira até a manhã da segunda-feira. Toda semana. 

- Mas, Dotora, eu tenho 5 filhos, crio todos sozinho. Não tenho condições de dormir na Cadeia um dia sequer.
- O Senhor tem 5 cinco filhos?
- Sim, Dotora, 5. Tudo pequeno.
- E cadê a mãe desses meninos?
- Foi simbora pra São Paulo.
- E são todos da mesma mãe?
- Tudo da mesma mãe, Dotora. Tudinho.
- O Senhor tem 5 filhos, todos da mesma mãe?! - A pergunta é reiterada em tom de desconfiança...
- Sim, Senhora. Não tem ninguém pra cuidar deles, se eu for dormir na Cadeia. Minha mãe é doente do coração. Não tem vizinho, parente, ninguém. Só eu mesmo.
- Não é possível que não tenha ninguém pra ficar com seus filhos só enquanto o Senhor passa o final de semana na Cadeia!

Até que eu intervenho e requeiro o cumprimento da pena em regime domiciliar. O pedido é, de pronto, indeferido, sob o argumento de que o que fora alegado não estava provado. Intervenho novamente:

- Por qual razão ele iria criar uma situação dessa? 
- Não sei. Não está provado. Indefiro. Pode juntar as provas depois e, somente com provas nos autos, analiso o pedido novamente.
- Peço que conste em ata o pedido da defesa! 

Após reiterar o pedido duas vezes e juntar atestado de que a avó paterna possui 70 anos de idade, está acometida de cardiopatia, hipertensão, diabetes e osteoartrose; as cinco certidões de nascimento das crianças - sim, eram, de fato, todas da mesma mãe -, inclusive tendo uma delas síndrome do espectro autista; relatório do Conselho Tutelar detalhando toda a situação narrada na audiência, o pedido, sequer, foi apreciado a tempo.

A tempo de ele saber se o Estado-juiz iria ter empatia por ele, pedir desculpas por ter duvidado dele, da vulnerabilidade dele.

O nome dele era Marcelo. Era e não é mais, porque ele morreu no dia 13 de agosto de 2018, prestes a completar 36 anos de idade. Ele não soube se cumpriria a pena em casa, com os filhos.

Até agora, para o Estado-juiz, Marcelo ainda existe, afinal sua punibilidade ainda não foi declarada extinta, mesmo após o pedido da defesa, com a prova de sua morte, por meio de atestado de óbito - sabe-se lá se, sem o atestado, a dúvida seria novamente suscitada.

Ele, Marcelo, também continua existindo para o Estado-juiz. Isso porque ainda está na lista das pessoas que cumprem pena na Cadeia.

É, Marcelo, não sei quem deveria, mas eu te peço perdão por esse sistema cruel, excludente, insensível. Peço perdão aos seus cinco filhos. Eu vi a foto dos cinco, tirada após sua morte. Estavam sentados em um banco, com olhares perdidos. Uma das tias me falou como você era um bom pai, por isso suas 5 doces crianças eram tão apegadas a você.

E agora, Marcelo, eu continuo a pedir-te perdão, pois ainda não sei com quem suas crianças ficarão...

Raissa P. Palitot Remígio

13/10/2018







terça-feira, 7 de agosto de 2018

O Mistério do Desejo




Olhando fixamente e doce ao mesmo tempo, fomentou um caminhar em direção à presa que se manteve entregue, à espera do ataque: Fora instintivo!
Inerte, ela permaneceu até a chegada triunfal.
Os corpos se tocam, os rostos se juntam, aroma exala das vestes, a música... já nem se escuta.

Passam a um lugar ermo, onde descobrem-se e, então, nasce o desejo.
Como nunca antes acontecera, já embevecida estava com outrem que, sequer, sabia-o ser.
Era a intensidade do ser e a liberdade de viver. Só queria mesmo sentir prazer.

O mistério atraiu; o encontro novamente surgiu. Que passe devagar!
Em meio à luz amena, portas abertas, da varanda viam a lua que assistia à mão, voluptuosamente, escorrendo pela pele desnuda.
O vento cantando nos ouvidos durante as conversas e escutas...
Um brinde à plenitude do ser!

Encaixe perfeito e um encontro do par que apenas conseguia sentir o deleite.
Estava mesmo a se entregar,
Afinal, ainda que dona de si mesma, era preciso se dar...

Olhar intenso e penetrante numa sinergia que ninguém explicaria
Durante aquele alvorecer, um corpo sobre o outro, o coração pulsando fortemente,
As mãos estariam a se alizar...
De fato, talvez, já não fosse só o prazer.

Um ser iluminado em meio a outrem diferenciado à procura da conquista para não se enfraquecer...

Raissa P. Palitot Remígio

07/08/2018








quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Eu com (minha) Utopia

Mudar o mundo em direção ao bem.
Mudar o mundo homeopaticamente.
Mudar o mundo, mesmo que, para alguns, seja desdém.

Um mínimo de dignidade a quem não tem nem nunca teve uma identidade.
Não sabe, ao certo, sua idade, mas precise, amanhã, quem sabe, 
Registrar o dia e a hora de sua morte.

E me apareceu, usando roupas rotas, com um olhar de espanto
Sem saber se poderia infiltrar-se no recinto sem calças, afinal não as tinha
Somente queria a identidade.

E cerca de três meses à espera se esvaíram. Espera na desesperança.
Somente queria a identidade.
Burocratas sem altruísmos. Querem apenas cumprir a forma pela forma e não pelo fim!
Não sentem a dor daquele que, por toda a vida, foi esquecido e viveu marginalizado.

Mas, de soslaio, deparo-me, novamente, com aquele olhar exalando suspense
E, desta vez, trazia-me um papel que recebeu em casa (ao menos, tem casa!)
Agora receberia um papel verde água, cheirando à cédula monetária recém-fabricada
A que, raramente, pode ter acesso.

Junto com ela: a identidade, a dignidade que vigorariam por poucos dias
De todos os setenta e dois anos de vida, agora desvendados, após os três meses de espera.

Jamais me esquecerei daquela serenidade e o sorriso sincero saindo de um ser tão pequeno
Todavia, tão grandioso que me paroquiou de todas as agruras e amarguras da vida
Ao receber uma simples... identidade. 

Raissa P. Palitot Remígio
14/12/2016

domingo, 17 de abril de 2016

Aprendendo a viver! (?)




Inteligência emocional é tão importante quanto a água que bebemos, o ar que respiramos, afinal chegar à morte é possível, diante de sua ausência. É mesmo alarmante o quanto podemos ser destruídos, se não soubermos lidar com as adversidades diuturnas que surgem diante de nós. 

Em meio à uma vida tão rápida, sem tempo para nosso autoconhecimento, crescemos sem sabermos quem verdadeiramente somos, quando não, muitas vezes, somos impelidos pela família, pelos amigos, pelos seguimentos da sociedade, da religião, das ideologias que seguimos a sermos alguém, que não nós mesmos.

Eu, por exemplo, quero mesmo é ser artista, mas, concomitantemente, quero também ser objeto de mudança social, da diminuição das desigualdades sociais, da violência contra idosos, contra crianças, da corrupção dentro do poder público e de nós, afinal também nos corrompemos, autossabotando-nos.

Mas, para sermos quem queremos ser, é indispensável sermos inteligentes emocionalmente falando. É indispensável estarmos plenos, estarmos em paz conosco, com nossos pares e com o universo. Desse modo, a vida fica mais fácil ou ficaria menos difícil ou um pouco mais suportável?

(...)

Raissa P. Palitot Remígio

17/04/2016

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Um amor tranquilo


Afinal, que é o amor tranquilo?
Ele tem critérios, como, o tempo de tranquilidade, a intensidade?
Quem pode dizer que tem um amor tranquilo?
Os poetas perdidos têm um amor tranquilo?

Os poetas iniciaram um amor avassalador
Daqueles que fazem suspirar, que deixam as maçãs rosadas, ao se ver a pessoa amada
Um amor admirado por todos, dos mais juvenis aos senis,
Pois esse amor permanecia estampado na cútis dos amantes.

Repentinamente, tornados tomaram conta e passaram a dirigir esse amor,
Enchentes derretendo os castelos construídos por esse amor,
Mas a serenidade se fez presente e, com a ajuda da maturidade,
Fizeram-se de escudo e bunker para esse amor.

E renasceu, ressurgiu, tenazmente
Tempos de paz, de novas descobertas, várias derrotas, sortidas vitórias
Tudo novo de novo
Como outrora se fez.

Mas, e o amor tranquilo?
É mesmo aquele dos poetas perdidos?

Raissa P. Palitot Remígio


domingo, 15 de março de 2015

Tempos Insanos III

Estratégia, táticas guerrilheiras para destruir o inimigo
Que, outrora, intentou derrotar-me.

Escudos, exaustão, corpo embevecido de sangue,
Visando à vitória.

Esperança que não morre,
Fé que me move.

Peito sempre erguido, avante!

Venham, treva; venham, terremotos,
De pé, estou.