segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O desejo de ser maestro

Vamos pra um pé d'água
Quebrada, cristalina, límpida e cintilante.
Temos que ir a pé, a passos curtos, desajeitados...

Pararei no ágape para nutrirmo-nos de serenidade e mansidão
No vagar do meu olhar,
Que pede, ajoelhado, "por favor, não se vá".

Terei receio do amanhã, a menos que nossa união seja para sempre
Mas, o coro da vida canta o inverso
E, nesse momento, desejo ser maestro.








Complexidade mandamental

É tudo um emaranhado de complexidade
Eu sou eu, mas posso ser tu, contudo
Nem sempre, nós podemos ser apenas um
In(in)teligível.

O mandamento ensina-me a amar-te como a mim mesma,
Mas como hei amar-te, se não trago amor, se não me amo?
A saída, então, é o castigo, é a outra porta, que não a dos céus?
(Obs)curo.

Impõem-me não cobiçar vossas coisas,
Mas, então, não posso desejar tua alegria,
Para não ser castigada?

Tento entender, outrora, crer...
É sempre intangível
É tudo um emaranhado de complexidade.

Raissa P. Palitot Remígio

sábado, 1 de outubro de 2011

A falácia do aluno de universidade pública


        Cresci ouvindo muitas conclusões generalizadas as quais são falsas, contudo conseguem aceitação por quem as conhece, tendo em vista que o homem comum não é instigado a analisar nem a argumentar acerca daquilo que lhes é transmitido, apenas absorve.
 
     Primeiramente é pertinente conceituar o termo "falácia" tecnicamente, para que o presente texto seja melhor compreendido por quem o lê. Pois bem, Anthony Weston, em "A construção do argumento", conceitua essa expressão no capítulo X da seguinte forma:

"Falácias são argumentos capciosos. Muitas são tão tentadoras, e, portanto, tão frequentes, que receberam nomes específicos."

     Nessa mesma obra, comentando sobre o tema em tela, Anthony Weston tece o seguinte comentário, que é bastante pertinente para o desenvolvimento lógico deste ensaio:

"Uma das tentações mais comuns é tirar conclusões a partir de elementos muito escassos. Por exemplo, se o primeiro lituano que eu conhecer tiver um temperamento colérico, eu posso chegar à conclusão precipitada de que todos lituanos possuem temperamento colérico. Se um navio desaparece no Trinâgulo das Bermudas, o National Enquirer declara que a região é mal-assombrada. Essa é a falácia da generalização por informação incompleta."

     Inferi que a afirmação de que alunos de universidade privada não têm tanto sucesso quanto alunos de universidade pública ou que são menos estudiosos ou inteligentes que estes é uma falácia. Utilizo a palavra inferir em vez de concluir, porque ainda não cheguei à uma conclusão completa acerca do assunto, considerando que, para tanto, precisarei de mais pesquisa.

     Os seguintes parágrafos serão, então, dedicados aos argumentos encontrados por mim os quais balizam o que inferi acima.

     As pessoas que são aprovadas em universidades públicas não possuem capacidade intelectual maior que aquelas que não obtiveram tal aprovação, posto que estas podem não ter sido aprovadas por diversas causas, tais como: escassez de equilíbrio emocional no momento do exame, não dominarem tão bem as disciplinas determinantes para a aprovação, como matemática e física, falta de oportunidade de aprenderem uma língua estrangeira, entre outras.

     Por exemplo, um aluno, que é bem afeito à Matemática, tem maiores chances de lograr êxito em uma prova de vestibular que o indiferente a tal matéria, mas amante do Português, da Literatura e da Redação. Digo isso, porque estas três disciplinas não possuem uma pontuação tão grande em muitos vestibulares de diversas universidades, enquanto aquela primeira tem um peso muito grande e pode aprovar quem ganhou uma excelente pontuação nela, mesmo não se saindo bem nas outras três citadas.

     Ademais, o examinando que nem estudou muito para o certame pode ter maior equilíbrio emocional durante a prova, pois que a pressão sobre ele é possivelmente menor, bem como a expectativa atribuída a ela. Já o que se dedicou com afinco está com carga emocional alta, em muitos casos, além de que os pais, professores já o aprovaram, digamos assim.

     Costumam basear e fundamentar a falácia do aluno de universidade pública em alguns índices e resultados, como o do Exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Afirmo que esses percentuais também não podem ser considerados para provar a veracidade do que dito por quem profere a falácia em questão.

     É cediço que muitas universidades privadas têm mais vagas no curso de Direito que as públicas. É cediço também que a prova de vestibular das instituições privadas é bem mais fácil que a das públicas. Assim, universidades privadas possuem mais alunos que as outras, e alunos com pouco grau de conhecimento são aprovados nessas privadas, não excluindo, contudo, que aqueles com médio e alto grau de conhecimento também são aprovados nessas privadas.

     Portanto, a maioria dos alunos do curso de Direito das universidades públicas, via de regra, possuem considerável grau de conhecimento, enquanto isso não acontece nas privadas, visto que são aprovados alunos com os diversos graus de conhecimento, ante o alto número de vagas e o baixo nível de dificuldade do exame.

    Pois bem, essas considerações utilizadas servem para elucidar o seguinte: de acordo com dados oficiais divulgados pela Ordem dos Advogados do Brasil, muitas instituições privadas tiveram mais candidatos inscritos que as públicas. Estas, por sua vez, obtiveram - em vários estados - melhores percentuais de aprovação que as privadas. 

     Contudo, sabendo que há bastantes alunos das privadas com pouco conhecimento e estudo, e que a maioria dos alunos das públicas possuem considerável grau de conhecimento, é possível inferir que a mesma situação - da quantidade de candidatos com os diversos níveis de conhecimento aprovados nas instituições públicas e privadas - também ocorre entre os que se inscreveram no Exame da Ordem. 

     Não é possível utilizar os índices publicados para asseverar que as universidades públicas têm melhores percentuais de aprovação e, por isso, os alunos são mais estudiosos ou inteligentes, porque se deve considerar que também estão os alunos com pouco grau de conhecimento dentro dos índices das privadas.

     Por exemplo, enquanto uma universidade pública A tem 40 inscritos, e a privada A1 tem 100, neste número estão presentes alunos com os diversos níveis de conhecimento, enquanto a maioria presente naqueles 40 são os com nível considerável de conhecimento.


     Assim, é clarividente que a pública terá índice de aprovação mais elevado que a privada. Portanto, esse demonstrativo é mais um argumento para argumentar sobre a falácia do aluno de universidade pública.

     Não obstante, essa falácia também pode ser superada, a partir do prisma de que o sucesso do aluno depende muito mais do seu esforço e da sua dedicação que da instituição onde está matriculado. Há alunos, por exemplo, que são bem sucedidos na vida profissional, contudo não assistiam às aulas, tinham coeficiente de rendimento escolar médio ou baixo, não participavam de grupos de pesquisas da instituição, entre outros.

     Não é possível, então, tecer generalizações a partir de dados somente, sem que as causas ensejadoras desses resultados sejam analisadas, criticadas e comparadas. Contrariamente, estar-se-ia diante de falácia e não de argumento forte e de conclusão verdadeira.

Raissa P. Palitot Remígio