domingo, 25 de abril de 2010

Brasília, 50 anos.



          Não amigo, não venho agora falar da política ou da azáfama perpetrada no Congresso Nacional. Se assim você pensou ao ver essa imagem, proscreva-a da mente. Faça uma limpeza, abra seu coração e inspiração para o que venho externar e o que vou te dizer. Não sou uma Cecília Meireles, mas uma mediana poeta eu posso ser. Procuro minhas inspirações nas músicas, pessoas, palavras e imagens, e Brasília, o Congresso Nacioal e Niemeyer foram determinantes para aflorar em mim mais de meia dúzia de palavras, digo pois, sentimentos.
      
           Há mais de meio século o eminente arquiteta conheceu JK quando ele ainda nem era Presidente, mas já tinha o sonho da construção e urbanização do Planalto Central. Niemeyer disse que tudo começou no Complexo da Pampulha. Foram dias difícieis, tanto no plano da ciência - cálculos e mais cálculos e muita criatividade, quanto no que se refere à sobrevivência naquele local sem telefone e onde o conforto não existia. Certo dia li um artigo publicado no Correio Brasiliense sobre um piancoense, Dedé Lacerda, que é um dos sobreviventes nordestinos que ajudaram a erguer a Capital Federal.Como nordestina, não posso deixar de comentar a relevância dos meus conterrâneos na realização desse sonho. Eram "cinquenta anos em cinco", como dizia Juscelino. A promessa de um país melhor. Realmente, foram cinquenta anos em cinco, mas não no desenvolvimento humano ou econômico, somente no crescimento físico e edilício.

           O artista queria uma arquitetura não simplória com traços e retas, mas sim uma arte complexa e diferente de tudo o que se vê pelo mundo afora. Queria fazer a diferença, marcar na mente de todos que vissem aquelas obras arquitetônicas. Não detalho aqui a Catedral, o Supremo, o Palácio do Planalto porque, aos meus olhos, o que mais me fascina é a Casa do Povo. Lá todos podem entrar, conhecer sua história. É no Salão Verde onde a imprensa passa aos brasileiros telespectadores as decisões e debates que estão acontecendo. Foi neste local que índios, mulheres, jovens, crianças, pessoas com habilidades especiais lutaram e choraram pelo projeto de uma nova Constituição, mas também foi no mesmo ambiente onde essas mesmas categorias choraram de alegria com a aprovação da Carta Magna Cidadã, no ano de 1988. Eu não era nem nascida, mas sinto no meu coração a mesma emoção que tiveram todos aqueles cidadãos.

         Trago a seguir um excerto de Niemyer ao construir o Congresso Nacional. Ele conectava arquitura e texto, pois os leigos não entendiam a arquitetura, mas através dos textos tudo tornava-se inteligível:

"...E o mesmo ao adotar a cúpula - a abóbada circular que os egípcios usavam e os romanos multiplicavam - no edifício do Congresso Nacional. E nela intervim plasticamente, modificando-a, invertendo-a, procurando fazê-la mais leve, como é fácil explicar. Na cúpula do Senado, desprezando a característica auto-portante que oferece e o empuxo que criaria, inclinei em retas na linha circular de apoio, tornando-a mais leve como preferia. Na da Câmara, depois de invertê-la, a estendi horizontalmente como a visibilidade interna exigia, procurando uma forma que a situasse como que simplesmente pousada na laje de cobertura."

"Arquitetonicamente, um prédio como o do Congresso Nacional deve ser caracterizado pelos seus elementos fundamentais. Os dois plenários são no caso esses elementos, pois neles é que se resolvem os grandes problemas do país. Dar-lhes maior ênfase foi o nosso objetivo plástico, situando-os em monumental esplanada onde suas formas se destacam como verdadeiros símbolos do poder legislativo. Ao fundo, contrariando a linha horizontal da esplanada, erguem-se os blocos administrativos, que são os mais altos de Brasília."     

       Oscar Niemyer, o Congresso Nacional e Brasília são uma tríade ícone do país nesse festejo de meio século da nova Capital Federal.

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